segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

"Tome um porre de livro que a ressaca é cultura!"

Breve Histórico da Organização

A comunidade de Peixinhos, localizada no limite entre os municípios de Olinda e Recife, é uma das mais populosas da região Metropolitana e possui indicadores sociais bastante excludentes: a maioria dos seus habitantes sobrevive do pequeno comércio local e de vendas ambulantes; o nível de desemprego é bastante elevado; e o consumo e comércio de drogas está presente no cotidiano da comunidade, provocando violência e produzindo conflitos interpessoais.

Nesse contexto de exclusão, marcado pela falta de perspectivas e de investimento social em alternativas de lazer - o que contribui para o aumento significativo de crianças e adolescentes nas ruas e em potenciais situações de risco físico, mental e emocional – organiza-se em 1993, um grupo de jovens autodenominado “Movimento Underground”. Esse grupo começa se reunir com o propósito de desenvolver atividades musicais. Dois anos depois, articulados com alunos de uma escola pública do bairro, organizaram a 1ª Semana da Cultura de Peixinhos, atraindo diferentes linguagens artísticas, como a dança, artes plásticas, poesia e teatro, além da música, para dentro do Movimento.

Em 1997, já mais experimentados e conscientes da importância de articular a cultura com a questão social, o Movimento muda o nome para “Movimento Cultural Boca do Lixo” , em homenagem à luta comunitária contra a instalação de um lixão no bairro, e promove o I Pop Rock Regional.

Em 1999, já consolidado o reconhecimento dos jovens e a mobilização comunitária através da arte, inicia-se a luta pela conquista do acesso à leitura como um direito. Durante um curso de elaboração e gestão de projetos, promovido pelo Centro de Cultural Luiz Freire, alguns integrantes do Movimento Boca do Lixo elaboraram uma proposta para a organização de uma biblioteca “viva” na comunidade.

A idéia, originariamente concebida pelo Sr. Caetano[1] como uma “sociedade de poetas”, articulada aos anseios jovens desencadeou no desenho da biblioteca viva, criada para ser um ambiente de convivência com a leitura como forma de lazer e construção de conhecimentos e conquista de autonomias. A partir da reelaboração dessas idéias, a proposta integra também o Grupo Comunidade Assumindo Suas Criaças como parceiro, com 15 anos de atuação na área de educação, e recebe apoio financeiro inicial do Unicef. Nesse momento a execução administrativo-financeira, coordenação pedagógica e a execução do projeto, através da formação de jovens gestores, ficou sob a responsabilidade do do Centro de Cultura Luiz Freire.

Para instalar a biblioteca o grupo “ocupou” as ruínas de um dos prédios do Antigo Matadouro Industrial de Peixinhos, rebatizado pelo movimento comunitário como “Nascedouro de Peixinhos”, já que o espaço tinha se convertido em palco da atuação de cerca de 15 grupos comunitários de educação, cultura e esportes. Em 2000, a Biblioteca Multicultural Nascedouro, que viria a ser a ação permanente do Movimento Cultural Boca do Lixo, é inaugurada e uma de suas primeiras intervenções marcou a VI Edição da Semana da Cultura de Peixinhos, entitulada “Viva a Leitura, Viva”, cujo objetivo foi divulgar a importância da leitura para o desenvolvimento comunitário. O evento aconteceu durante a semana da criança de 2000, onde foram oferecidas 09 oficinas de arte e cultura, com o propósito de promover um diálogo com as crianças e adolescentes a respeito do significado da biblioteca como um espaço de vivência, lazer e de estudos para elas e para a comunidade em geral.
A experiência da Biblioteca, juntamente com o processo de formação continuada, permanente e em serviço, trouxe para uma grande contribuição para o próprio Movimento Boca do Lixo, que foi o seu registro como personalidade jurídica, em 2002, passando a ter maior autonomia para a formulação, gestão de projetos para a captação e geração recursos, em articulação e parceria com as demais organizações comunitárias de Peixinhos e adjacências e com outros Movimentos Culturais da Cidade, além de ONGs e OGs.

Atualmente, o Movimento garante suas ações permanentes através das atividades educativas, culturais e políticas, desenvolvidas pela Biblioteca Multicultural Nascedouro diáriamente no período das 09h às 17hs: atendendo a comunidade em geral e, crianças, adolescentes e jovens em especial; participando ativamente da luta comunitária pela qualidade de vida.
Além disso, o Movimento vem reunindo esforços para o seu desenvolvimento institucional, de maneira a garantir uma maior qualidade de suas intervenções, na perspectiva da construção de maior autonomia financeira, a partir da organização de ações de geração de renda dentro da própria comunidade e a partir de seus potenciais econômicos e vocacionais; no caso promovendo a mobilização social através da cultura, da educação e da comunicação nas mais diversas expressóes/ linguagens artísticas.

Instituições apoiadoras
Apoios da cooperação internacional:
ASW (AÇÃO Mundo Solidário - Alemanha) projeto da
Biblioteca
Instituto C&A de Desenvolvimento Social
Observatório de Favelas

Apoios e parcerias para o desenvolvimento de projetos, eventos e atividades educativas, culturais e organizativas da luta comunitária:
Grupo Comunidade Assumindo suas Crianças, Grupo Malunguinho Histórico Divino, Balé Expressão Afro-Brasil, (AAN) Associação Amigos do Nascedouro, Projeto Peixearte, CEAEC-Centro de Estudos e Apoio às Escolas Comunitárias, Centro de Cultura Luiz Freire, Auçuba, CEPOMA-Centro de Educação Popular Maílde Araújo, MABI-Movimento Arrebenta Barreiras, entre outros.


Apoio técnico e pedagógico:
Centro de Cultura Luiz Freire

[1] Caetano Alves, poeta septuagenário, morador da comunidade, apoiador do movimento de jovens, ex-militar e dono de um “alfarrábio” (sebo) no mercado, falecido recentemente.

Contatos:
32443325
bocadolixo@bocadolixo.org.br